Talvez você tenha lido sobre o programa Prism, através do qual a Agência de Segurança Nacional dos E.U.A. (NSA) tem coletados dados da Microsoft, Google, Facebook, Apple e outras grandes corporações da Internet.
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Lembre-se que esta é apenas a ponta do iceberg. Não temos como saber quantos projetos similares estão enterrados mais profundamente no aparato do estado de vigilância (e em cada país), que não foram revelados por ousados delatores. Sabemos que todo dia a NSA intercepta bilhões de e-mails, ligações telefônicas e outras formas de comunicação. E o que eles podem monitorar, eles podem censurar, ao estilo China ou Mubarak.
Muitas pessoas têm promovido a internet como uma oportunidade para criar novos recursos comuns (ou commons), recursos que podem ser compartilhados livremente e não ser apenas uma propriedade privada. Mas face ao poder cada vez maior do Estado e das corporações sobre as estruturas através das quais nós interagimos online, temos que considerar a possibilidade distópica de que a internet representa um novo sistema de cercamento de bens comuns: a canalização da comunicação em formatos que podem ser mapeados, patrulhados e controlados.
Um dos eventos que serviu de base para a transição ao capitalismo foi o primeiro cercamento dos bens comuns, quando a terra que antes era usada livremente por todas as pessoas foi tomada e transformada em propriedade privada. Este processo se repetiu diversas vezes ao longo do desenvolvimento do capitalismo.
Parece que não conseguimos reconhecer os “bens comuns” a menos que estejam ameaçados com o cercamento. Ninguém pensa na canção “Parabéns Pra Você” como um bem comum, pois a Time Warner (que alega possuir os direitos autorais) não teve sucesso em lucrar com toda a cantoria em festinhas de aniversário. Originalmente, camponeses e povos indígenas também não viam a terra como propriedade em comum — pelo contrário, eles consideravam absurda a ideia de que a terra poderia ser propriedade de alguém.
Seria igualmente difícil, há apenas algumas gerações atrás, imaginar que um dia se tornaria possível exibir anúncios publicitários para as pessoas sempre que elas conversassem juntas, ou mapear os seus gostos e relações sociais num piscar de olhos, ou acompanhar as suas linhas de raciocínio em tempos real ao monitorar as suas buscas no Google.
Sempre tivemos redes sociais, mas ninguém podia usá-las para vender anúncios — nem elas eram tão facilmente mapeadas. Agora, elas ressurgem como algo que nos é oferecido por corporações, algo externo a nós e que precisamos consultar. Aspectos de nossas vidas que antes nunca poderiam ter sido privatizados agora estão praticamente inacessíveis sem os últimos produtos da Apple. A computação em nuvem e a vigilância governamental onipresente somente enfatizam a nossa dependência e vulnerabilidade.
Ao invés de ser a vanguarda do inevitável progresso da liberdade, a internet é o mais novo campo de batalha de uma disputa secular com aqueles que querem privatizar e dominar não apenas a terra, mas também todos os aspectos do nosso ser. O peso de provar que a internet ainda oferece uma barreira para alcançarmos a liberdade está sobre aquelas pessoas que têm a esperança de defendê-la. Ao longo desta luta, pode ficar claro que a liberdade digital, como todas as formas importantes de liberdade, não é compatível com o capitalismo e o Estado.