Poster: As Duas Faces do Fascismo

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Como a Polícia é Cúmplice da Ascensão Fascista

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Two faces of fascism

Quando fascistas tomam as ruas com seus símbolos e até armas em mãos, a polícia protege seu “direito à liberdade de expressão” e os escoltam para que atuem em segurança. Quando antifascistas tentam impedir que a extrema direita consiga recrutar mais gente com seus discursos, a polícia ataca e busca criminalizar sua ação política. Mesmo sabendo que carregar símbolos e imagens neo-nazistas é considerado crime, as autoridades vão sempre optar por criminalizar a resistência e tolerar o fascismo. Mesmo quando policiais tentam se passar por “apoiadores do antifascismo”, o fazem tentando controlar e pacificar as ações e se promover como porta-vozes dos movimentos ou capitalizar candidaturas política às custas do trabalho dos mesmos. Quando isso acontece, é importante lembrar que o antifascismo surgiu da luta de movimentos radicais, anarquistas e socialistas, contra os bandos fascistas nas ruas e as forças da repressão estatal que ajudam o fascismo a tomar o controle do Estado — e o defendem quando chegam lá.

Baixe o Poster “As Duas Faces do Fascismo” em pdf colorido ou preto e branco.

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“A questão estava bastante clara. De um lado, a CNT, do outro lado, a polícia. Não tenho nenhum amor especial pelo ‘trabalhador’ idealizado, do jeito que ele aparece na mente do comunista burguês, mas quando vejo um trabalhador real, de carne e osso, em confronto com seu inimigo natural, o policial, não preciso me perguntar de que lado estou””.

— George Orwell, Lutando na Espanha

Derrotar fascistas nas urnas não é o suficiente para barrar o crescimento do fascismo. Aliás, nem mesmo a democracia tem ferramentas eficientes para impedir que autoritários como Jair Bolsonaro ou Donald Trump cheguem ao poder e abram caminho para que fascistas tomem as ruas e posições de poder dentro do Estado. Nessa dinâmica, a polícia desempenha um papel fundamental em permitir que a violência fascista nas ruas legitime candidatos fascistas e vice versa.

É assim que funciona: grupos fascistas promovem violência racista, sexista e nacionalista. Os fanáticos fazem isso individualmente, atacando pessoas nas ruas, atirando e matando gente em igrejas, em sinagogas, no metrô. As autoridades usam esses ataques como uma desculpa para aumentar o controle, prometendo proteger uma população com medo. Mas a maior ameaça não são os indivíduos fascistas isolados, e sim o próprio Estado. É o Estado que prende e deporta milhões de pessoas todos os anos, que reprime quem discorda e impõe uma enorme desigualdade de poder que marca nossa sociedade.

Manifestantes gritam “todos os policiais são bastardos” em Portland em 4 de junho de 2017, depois que a polícia atacou a multidão.

Quando a polícia cria um espaço seguro para que nacionalistas pratiquem sua violência com impunidade, ela revela como é cúmplice da ascensão do fascismo. Foi assim quando policiais escoltaram fascistas armados nos protestos antirracistas do dia 31 de maio de 2020 na Av. Paulista, enquanto atacava as torcidas antifascistas que protestavam contra o racismo. E também foi o caso quando a polícia de Portland, nos EUA, abriram caminho para que fascistas atacassem manifestantes e depois os protegeu de antifascistas. A polícia usa uma variedade de armas menos letais para acabar com protestos que enfrentam as marchas da extrema direita e permitir que fascistas sigam recrutando novas pessoas.

Por sua vez, fascistas e nacionalistas apoiam a polícia espalhando narrativas que justificam sua violência contra as pessoas que se opõem à ascensão do fascismo. Qualquer pessoa que já foi a uma manifestação sabe que a polícia cria sua própria propaganda midiática para justificar qualquer das suas ações violentas. No entanto reacionários que consideram a grande mídia “fake news” estão dispostos a acreditar em qualquer coisa que leiam em um perfil de rede social da polícia. Essa é a mentalidade que funciona de base pro fascismo: reportagens independentes e investigação crítica são ridicularizadas, enquanto as narrativas divulgadas pelas autoridades são engolidas sem questionar.

Tudo isso faz parte de um padrão amplo no qual a polícia e os fascistas se apoiam mutuamente. Em resumo, é assim que funciona: grupos fascistas promovem violência racista, sexista e nacionalista. Os fanáticos fazem isso individualmente, atacando pessoas nas ruas, matando pessoas em igrejas, esfaqueando pessoas em trens. As autoridades usam esses ataques como uma desculpa para aumentar o controle, prometendo proteger uma população com medo. Mas a maior ameaça não são os indivíduos fascistas: é o próprio Estado. É o Estado que prende e deporta milhões de pessoas todos os anos, que reprime quem discorda, que impõe os tremendos desequilíbrios de poder que caracterizam esta sociedade.

O Estado é fundamentado na violência; o fascismo está sempre por perto.

Se contarmos com as autoridades para controlar as movimentações fascistas, dando-lhes recursos e legitimidade na esperança de que elas nos protejam, é apenas uma questão de tempo até um governo mais reacionário tomar o poder e usar todos esses recursos e legitimidade que o governo anterior obteve para praticar ainda mais violência.

Esse é o motivo pelo qual somente a resistência popular pode parar a ascensão do fascismo. Celebramos a coragem das pessoas que saem nas ruas para se opor à violência racista e à ascensão do fascismo. No fim das contas, se queremos acabar com a violência racista, teremos que enfrentar o próprio Estado. Precisamos nos tornar capazes de defender as nossas manifestações e nossas comunidades tanto da polícia quanto dos fascistas.

“O Fim da Polícia” - documentário sobre as origens e as razões pelas quais a polícia deve ser abolida em toda sociedade, por coletivo Antimídia.