E se ninguém trabalhasse? Oficinas de costura se esvaziariam, linhas de montagem parariam, pelo menos aquelas produzindo coisas que ninguém faz por sua própria vontade. O telemarketing acabaria. Indivíduos detestáveis que só têm influência sobre outras pessoas por causa da sua riqueza e títulos teriam que aprender a se relacionar melhor. Acabariam os congestionamentos, assim como os derramamentos de óleo. Cédulas de dinheiro e currículos seriam usados para ascender fogueiras, uma vez que as pessoas voltariam a trocar e compartilhar seus recursos. Ervas e flores nasceriam nas rachaduras das calçadas, abrindo caminho, eventualmente, para árvores frutíferas.
E todo mundo morreria de fome. Mas nós não sobrevivemos de papelada e avaliações de desempenho, né? A maior parte das coisas que fazemos por dinheiro são irrelevantes à nossa sobrevivência — e, além disso, a tudo que dá significado à vida.
Esse texto é um trecho do livro Trabalho, uma análise de 376 páginas sobre o capitalismo contemporâneo. Disponibilizamos também uma versão resumida de 100 páginas em português para impressão.
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Isso depende do que você quer dizer com “trabalho”. Pense em quantas pessoas gostam de jardinar, pescar, de carpintaria, de cozinhar e até mesmo de programar computador apenas pelo ato em si. Que tipo de atividade poderia prover para todas nossas necessidades?
Por séculos, as pessoas alegaram que o progresso tecnológico logo libertaria a humanidade da necessidade de trabalhar. Hoje temos capacidades que nossas ancestrais nem podiam imaginar, mas essas previsões ainda não se realizaram. Nos E.U.A., hoje se trabalha por mais tempo do que há algumas gerações — as pessoas pobres para conseguir sobreviver, as ricas para competir. Outras buscam por trabalhos autônomos desesperadamente, mal conseguindo aproveitar o lazer confortável que todo esse progresso deveria fornecer. Apesar de toda conversa de recessão e da necessidade de medidas de austeridade, as corporações relatam lucros recordes, os mais ricos, estão mais ricos do que nunca, e quantidades incríveis de bens são produzidos apenas para serem jogados fora. Existe riqueza o suficiente, ela apenas não está sendo usada para libertar a humanidade.
Que tipo de sistema produz abundância ao mesmo tempo em que nos impede de aproveitá-la? Quem defende o mercado livre argumenta que não existe outra opçao — e enquanto nossa sociedade for organizada desta forma, realmente não há.
Ainda assim, houve uma época, antes dos cartões de pontos e dos vale-refeição, tudo era feito sem trabalho. O mundo natural que provia para as nossas necessidades ainda não tinha sido moldado e privatizado. Conhecimento e habilidades não eram o domínio exclusivo de especialistas licenciados, nem mantidos como reféns de instituições caras; o tempo não era dividido entre trabalho produtivo e lazer consumista.
Sabemos disso porque o trabalho foi inventado há apenas alguns milhares de anos, mas os seres humanos estão aí há centenas de milhares. Nos dizem que a vida naquela época era “solitária, pobre, suja, brutal e breve” — mas essa descrição é contada por quem erradicou esse estilo de vida, não por quem a praticou.
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Isso não quer dizer que devemos voltar a como as coisas eram, ou que podemos — somente que as coisas não precisam ser do jeito que são agora. Se nossas ancestrais distantes pudessem nos ver hoje, elas provavelmente ficariam empolgadas com algumas de nossas invenções e horrorizadas com outras, mas elas certamente ficariam chocadas com a forma que as utilizamos. Nós construímos este mundo com nosso trabalho, e, sem certos obstáculos, com certeza poderíamos construir um ainda melhor. Isso não significa abandonar tudo o que aprendemos. Significaria apenas abandonar tudo o que sabemos que não funciona.
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Ninguém pode negar que o trabalho é produtivo. Apenas alguns milhares de anos de trabalho transformaram dramaticamente a superfície da terra.
Mas o que exatamente ele produz? Copos descartáveis aos bilhões; notebooks e celulares que ficam obsoletos em alguns anos. Quilômetros de lixões e toneladas e toneladas de clorofluorcarbono. Fábricas que enferrujarão assim que a mão de obra ficar mais barata em outro lugar. Lixeiras cheia de excessos de produção, enquanto um bilhão de pessoas sofrem de subnutrição; tratamentos médicos que só pessoas ricas podem pagar; livros, filosofias e movimentos artísticos para os quais a maioria de nós não tem tempo numa sociedade que subordinas os desejos ao lucro e as necessidades ao direito de propriedade.
E de onde vêm os recursos para toda essa produção? O que acontece com os ecossistemas e comunidades que são saqueados e explorados? Se o trabalho é produtivo, ele é ainda mais destrutivo.
O trabalho não produz bens do nada; não é um passe de mágica. Pelo contrário, ele tira materiais brutos da biosfera — um banco público compartilhado por todas criaturas vivas — e os transforma em produtos animados pela lógica do mercado. Para quem vê o mundo numa ótica de balanço patrimonial, isso é uma melhora, mas o resto de nós não deveria acreditar no que dizem.
Capitalistas e socialistas sempre aceitaram a idéia de que o trabalho produz valor. Quem trabalha deve refletir sobre uma outra possibilidade: a de que o trabalho gasta o valor. É por isso que as florestas e as calotas polares estão sendo consumidas junto com as horas de nossas vidas: a dor em nosso corpo
O que deveríamos estar produzindo, senão esse monte de coisas? Bem, que tal felicidade? Será que conseguimos imaginar uma sociedade onde o principal objetivo de nossa atividade seja aproveitar a vida ao máximo, explorar seus mistérios, ao invés de acumular riquezas ou superar a competição? Ainda produziríamos bens materiais em tal sociedade, é claro, mas não para competir por lucro. Festivais, banquetes, filosofia, romance, buscas criativas, cuidar das crianças, amizades, aventura — podemos visualizar isso como centro da vida, ao invés de empilhados em nosso tempo livre?
Hoje as coisas são ao contrário — a nossa concepção de felicidade é construída de forma a estimular a produção. Não é de se surpreender que o mundo está tão cheio de coisas que não tem mais espaço para nós.
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O trabalho não simplesmente cria riqueza onde antes tinha pobreza. Pelo contrário, quando ele enriquece uma pessoas às custas das outras, o trabalho também cria pobreza, diretamente proporcional ao lucro.
A pobreza não é uma condição objetiva, mas uma relação produzida pela distribuição desigual de recursos. Não existe tal coisa como pobreza em sociedade onde as pessoas compartilham tudo. Pode haver escassez, mas ninguém tem que passar pela humilhação de ter que ficar sem enquanto outras pessoas tem mais do que podem utilizar. À medida que o lucro se acumula e o nível de riqueza necessária para exercer influência sobre a sociedade cresce cada vez mais, a pobreza se torna cada vez mais incapacitadora. É uma espécie de exílio — a forma mais cruel de exílio, pois você fica dentro da sociedade ao mesmo tempo em que é excluída dela. Você não pode nem participar, nem ir para outro lugar.
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O trabalho não apenas cria pobreza junto com a riqueza — ele concentra a riqueza nas mãos de poucas pessoas enquanto espalha a pobreza por todo lado. Para cada Bill Gates, um milhão de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza; para cada petroleira Shell, deve haver uma Nigéria. Quanto mais trabalhamos, mais lucro é acumulado graças ao nosso trabalho, e mais pobres nós ficamos em comparação com quem nos explora.
Então, além de criar riqueza, o trabalho empobrece os povos. Isso fica claro mesmo antes de considerarmos todas as outras formas com as quais o trabalho nos deixa pobres: pobres de autodeterminação, pobres de tempo livre, pobres de saúde, pobres em nos concebermos além de nossas carreiras e contas bancárias, pobres de espírito.
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As estimativas de “custo de vida” são enganosas — tem pouca vida acontecendo aí! “Custo de trabalho” seria mais adequado, e ele não é barato.
Todo mundo sabe quem vive de fazer faxina e lavar pratos paga por ser a espinha dorsal da nossa economia. Todos os flagelos da pobreza — o vício, famílias despedaçadas, saúde debilitada — são o mínimo a se esperar; quem sobrevive a eles e de alguma forma continua chegando no horário está fazendo milagre. Pense no que essas pessoas poderiam realizar se fossem livres para utilizar essa energia a algo além de gerar lucro para seus empregadores!
Mas e o seus empregadores, que têm sorte de estarem mais altos na pirâmide? Você pensaria que ter um salário mais alto significaria ter mais dinheiro e, portanto, mais liberdade, mas não é tão simples. Todo o emprego tem custos ocultos: assim como quem lava pratos tem que pagar pela passagem de ônibus para ir e voltar do trabalho todo dia, uma advogada corporativa tem que ser capaz de voar a qualquer lugar num piscar de olhos, tem que ser associada ao Country Club para reuniões informais de trabalho, tem que ter uma pequena mansão para entreter suas convidadas/clientes com jantares elegantes. É por isso que é tão difícil para trabalhadoras de classe média economizar dinheiro suficiente para parar de se matar e levar uma vida mais tranquila: pois se matar trabalhando na economia é basicamente manter as coisas como estão. Na melhor das hipóteses você pode ir para um escritório melhor, mas você vai ter que trabalhar mais ainda para se manter lá.
E esses custos puramente financeiros do trabalho são os menos caros. Em um enquete, pessoas de todos os tipos tiveram que dizer quanto dinheiro elas precisariam para levar a vida que gostariam; das mais pobres às mais ricas, quase todas elas responderam que seria o dobro de sua renda atual.
Então o dinheiro não é apenas custoso para se obter, mas, como qualquer droga viciante, ele cada vez satisfaz menos! E quanto mais você sobe na hierarquia, mais você tem que lutar para manter sua posição.
O rico executivo deve abandonar as suas paixões incontroláveis e a sua consciência, deve convencer a si mesmo que ele merece mais que as pessoas infelizes cujo trabalho provê para o seu conforto, deve abafar todo impulso de questionar, de compartilhar, de imaginar a si mesmo no lugar das outras; se ele não o fizer, mais cedo ou mais tarde outra pessoa o substituirá. Tanto quem faz trabalho braçais como o pessoal do colarinho branco têm que se matar para manter os empregos que lhes permitem viver; é só uma questão de destruição física ou espiritual.
Esses são os custos que pagamos individualmente, mas também há um custo global para todo esse trabalho. Além dos custos ambientais, existem doenças, lesões e mortes relacionadas ao trabalho: todo ano nós matamos pessoas aos milhares para vender hambúrgueres e planos de saúde a quem sobrevive. O Departamento de Trabalho dos E.U.A. relatou que morreram o dobro de pessoas em acidentes de trabalho em 2001 do que nos ataque do 11 de Setembro, e isso sem levar em conta as doenças relacionadas ao trabalho. Sobretudo, mais exorbitante que qualquer outro preço, é o custo de nunca aprendermos a dirigir nossas próprias vidas, nunca tendo a chance de responder ou sequer perguntar a questão de o que faríamos com nosso tempo neste planeta se dependesse de nós. Nós nunca saberemos de tudo que estamos abrindo mão ao aceitarmos um mundo onde as pessoas estão muito ocupadas, são muito pobres ou estão muito abatidas para se questionar.
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Por que trabalhar se o trabalho custa tão caro para nós? Todo mundo sabe a resposta — não existe outra forma de adquirir os recursos que precisamos para sobreviver, ou, aliás, para apenas participar da sociedade. Todas as estruturas sociais mais antigas que tornavam possíveis outras formas de se viver foram erradicadas — elas foram extinguidas por conquistadores, comerciantes de escravos e corporações que não deixaram nenhuma tribo ou ecossistema intacto. Ao contrário da propaganda capitalista, seres humanos livres não se amontoam em fábricas por uma ninharia se tivessem outras opções, nem mesmo em troca de tênis de marca e programas de computador.
Quando trabalhamos, compramos e pagamos contas, cada uma de nós ajuda a perpetuar as condições que impõem essas atividades. O capitalismo existe porque entregamos tudo a ele: nossa energia e engenhosidade ao mercado de trabalho, todos nossos recursos ao supermercado e à bolsa de ações, toda nossa atenção à mídia. Mais precisamente, o capitalismo existe porque ele é nossas atividades diárias. Mas nós continuaríamos a reproduzi-lo se achássemos que há outra opção?
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Pelo contrário, ao invés de capacitar as pessoas a alcançar a felicidade, o trabalho fomenta o pior tipo de negação de si.
Obedecer a professores, patrões, às demandas do mercado — pra não falar de leis, expectativas dos pais, escrituras religiosas, normas sociais — somos condicionadas desde a infância a abrir mão de nossos desejos. Seguir ordens se torna um reflexo involuntário, seja isso ou não o melhor para nós; delegar a especialistas se torna instintivo.
Ao vender nosso tempo livre em vez de fazer as coisas que gostaríamos, nós aprendemos a avaliar as nossas vidas com base no quanto podemos receber em troca delas, não pelo que podemos aproveitar nelas. Como escravos freelance, vendendo nossas vidas por hora, passamos a enxergar nós como cada pessoa tendo um preço; o valor do preço se torna nossa própria medida de valor. Nesse sentido, nos tornamos mercadorias, assim como o creme dental e o papel higiênico. O que antes era um ser humano agora é um empregado, da mesma forma que o que antes era um porco agora é presunto. Nossas vidas desaparecem, gastas como o dinheiro pelo qual as trocamos.
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Com frequência nos acostumamos tanto a abrir mão de coisas que são importantes para nós que o sacrifício passa a ser a nossa única forma de expressar que nos importamos com algo. Nos martirizamos por ideias, causas, amor, até mesmo quando essas coisas deviam nos ajudar a encontrar a felicidade.
Existem famílias, por exemplo, onde as pessoas demonstram carinho competindo para ser aquela que abre mão de mais coisas pelas outras. A gratificação não é apenas adiada, é passada de geração em geração. A responsabilidade de finalmente aproveitar toda a felicidade supostamente economizada ao longo de anos de um trabalho ingrato é passada às crianças; ainda assim, quando elas crescem, se quiserem ser vistas como adultas responsáveis, elas também devem começar a trabalhar até suas mãos sangrarem.
Mas alguém tem que assumir essa responsabilidade.
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As pessoas trabalham duro hoje, com certeza. Vincular o acesso a recursos à performance no mercado levou a uma produção e progresso tecnológico sem precedentes. De fato, o mercado monopolizou o acesso à nossa própria capacidade criativa a tal ponto que muitas pessoas trabalham apenas pra ter algo que fazer. Mas qual tipo de iniciativa isso produz?
Vamos voltar ao aquecimento global, uma das crises mais sérias com que o planeta se depara. Após décadas de negação, políticos e empresários finalmente foram convencidos a fazer algo a respeito. E o que estão fazendo? Pensando em formas de lucrar? Créditos de carbono, carvão “limpo”, investimento “verde” — quem acredita que essa é a forma mais efetiva de reduzir a emissão de gases de efeito estufa? É irônico que uma catástrofe causada pelo consumismo capitalista posse ser usada para incentivar mais consumo, mas isso diz muito sobre o tipo de iniciativa que o trabalho encoraja. Que tipo de pessoa, ao ser confrontada com a tarefa de evitar o fim da vida na terra, responde: “Claro, mas o que eu ganho com isso?”
Se tudo na nossa sociedade deve ser movido pelo lucro para ter sucesso, isso não é iniciativa, afinal, é outra coisa. Realmente tomar iniciativa, dando início a novos valores e novos formas de comportamento — isso é tão inimaginável ao homem de negócios empreendedor quanto para a trabalhadora mais letárgica. E se o trabalho — ou seja, o aluguel de nossos poderes criativos a outras pessoas, sejam gerentes ou clientes — na verdade corrói a iniciativa?
A evidência disso vai além do local de trabalho. Quantas pessoas que não perdem um dia de trabalho não conseguem chegar no horário para o ensaio da banda? Não temos tempo para ler, mesmo quando terminamos as tarefas da escola a tempo; as coisas que realmente queremos fazer com nossas vidas acabam ficando no fim da lista de tarefas. A habilidade de levar adiante nossos compromissos se torna algo impossível para nós, e é associada com recompensas ou punições externas.
Imagine um mundo onde tudo que as pessoas fizessem, elas fizessem porque querem, por estarem pessoalmente interessadas em fazer isso acontecer. Para qualquer patrão que teve dificuldade em motivar funcionárias apáticas, a idéia de trabalhar com pessoas que estão igualmente interessadas nos mesmos projetos parece utopia. Mas isso não quer dizer que nada seria feito sem patrões e salários — apenas mostra como o trabalho nos despe de iniciativa.
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Digamos que o seu trabalho nunca machuque, envenene ou deixe você doente. Vamos também supor que a economia não vai quebrar e levar embora o seu emprego e suas economias, e que ninguém que está numa situação pior que a sua vai machucar ou roubar você. Você ainda não pode ter certeza que não será demitida. Hoje em dia, ninguém trabalha para a mesma empregadora durante toda sua vida; você trabalha em algum lugar por uns anos até que te trocam por uma pessoa mais jovem e mais barata ou terceirizam o seu trabalho pra uma empresa do outro lado do oceano. Você pode se quebrar para provar que você é a melhor da área e ainda assim ficar desempregada.
Você tem que contar que suas empregadoras tomará decisões inteligentes de forma que consiga te pagar no fim do mês — elas não podem simplesmente queimar dinheiro ou não terão para te pagar. Mas você não sabe quando esta inteligência se voltará contra você: as pessoas de quem você depende para o seu sustento não chegaram lá por serem sentimentais. Se você é uma profissional autônoma, então você provavelmente sabe como o mercado pode ser instável.
O que poderia nos dar segurança real? Talvez fazer parte de uma comunidade de longo prazo na qual as pessoas cuidam umas das outras, uma comunidade baseada na ajuda mútua ao invés de em incentivos financeiros. E qual hoje é um dos principais obstáculos à construção desse tipo de comunidade? O trabalho.
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Quem executou a maioria das injustiças na história? Pessoas cumprindo ordens. Isso não quer dizer necessariamente que elas são responsáveis por isso — como elas mesmas fariam questão de te dizer!
O fato de receber um salário absolve você das suas ações? O trabalho parece fomentar a impressão de que sim. A defesa utilizada no julgamento de Nuremberg — “eu estava só seguindo ordens — tem sido o hino e álibi de milhões de trabalhadoras. A disposição de deixar sua consciência em casa antes de ir ao trabalho — de ser, na verdade, um mercenário — está na raiz de muitos problemas que assolam nossa espécie.
Pessoas já fizeram muitas coisas horríveis sem que fossem mandadas — mas esse número não chega nem perto. Você pode argumentar com uma pessoa que está agindo de vontade própria; ela reconhece que e é responsável pelas suas decisões. Por outro lado, pessoas empregadas podem fazer coisas incrivelmente burras e destrutivas enquanto se recusam a pensar nas consequências.
O verdadeiro problema, é claro, não são pessoas empregadas se recusando a assumir a responsabilidade por suas ações — é o sistema econômico que faz com que assumir responsabilidade seja proibitivo de tão caro.
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Empregados despejam lixo tóxico em rios e oceanos.
Empregados massacram vacas e executam experimentos em macacos.
Empregados jogam fora toneladas de comida.
Empregados estão destruindo a camada de ozônio.
Estão observando todos seus movimentos pelas câmeras de segurança.
Mas eu tenho uma hipoteca!
Eles despejam você quando você não paga seu aluguel.
O aprisionam quando você não paga seus impostos.
Eles humilham você quando você não faz o seu tema de casa ou não chega no horário para o trabalho.
Eles digitam informações sobre a sua vida privada em relatórios de crédito e arquivos da Polícia Federal.
Eles te multam por excesso de velocidade e guincham o seu carro.
Eles administram exames padronizados, centros de detenção juvenil e injeções letais.
Os soldados que arrebanharam as pessoas em câmaras de gás eram empregados, assim como os soldados ocupando o Iraque e o Afeganistão,
Assim como os homens-bomba que os atacam — são funcionários de Deus, esperando serem pagos no paraíso.
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Vamos deixar isso claro: criticar o trabalho não significa rejeitar o labor, o esforço, a ambição ou o compromisso. Não significa exigir que tudo na vida seja divertido ou fácil. Lutar contra as forças que nos obrigam a trabalhar é um trabalho duro. A alternativa ao trabalho não é a preguiça, embora essa possa ser um subproduto dele.
O ponto principal é simples: todas nós merecemos tirar o máximo do nosso potencial da forma que acharmos melhor, ser mestres de nossos próprios destinos. Sermos forçadas a vender essas coisas para sobreviver é trágico e humilhante. Não precisamos viver assim.